João Lourenço é fixe?

Post by: 01 Setembro, 2024

Na segunda-feira, 26, o presidente do MPLA, João Lourenço, reuniu os líderes dos Comités de Acção do Partido (CAP), com o objectivo de 'fortalecer as bases e aperfeiçoar a inserção do partido na sociedade'. Em editorial publicado no final de Maio, o NJ criticou o processo e alertava que o problema do partido, nos últimos tempos, tem sido a forma como as lideranças e as estruturas têm lidado com as bases e existem ainda muitas falhas em termos de comunicação e coordenação com elas. JLo desceu as bases, lançou o debate sobre a sua própria sucessão e 'piscou o olho' à juventude, dando a ideia de que é um tipo 'fixe'.

'Soares é fixe é, até hoje, considerado um dos mais originais e simbólicos slogans de uma campanha presidencial em Portugal. O slogan pretendia aproximar o candidato do Partido Socialista (PS) as camadas mais jovens do eleitorado. Mário Soares versus Freitas do Amaral, nas eleições mais disputadas de sempre da história da democracia portuguesa (em 1986), que obriga riam a uma segunda volta, na qual Mário Soares viria alcançar 51,2% da votação contra os 48,8% de Freitas do Amaral

Mário Soares tornar-se-ia no 16. Presidente de Portugal e o primeiro Presidente civil em democracia. Era mais velho de Freitas do Amaral, mas a sua campanha surgiu com uma mensagem muito mais arejada, mais leve e bem dirigida à juventude.

O gosto do risco e do desafio, assim como o espírito de combate de Soares abriram caminho para uma nova forma de estar na política. Esta forma de aproximação de Mário Soares à juventude, através de uma comunicação frontal, aberta, pouco formal, fluida e evoluída, foi apreciada e acolhida pelos jovens, acabando por fazer a diferença.

A mensagem de um 'Kota fixe', que os abordava e se interessava pelos jovens e pelos seus problemas, acabou mobilizando-os e ajudou-o a conquistar o poder. Num Portugal já bastante envelhecido, foi para os jovens que Soares direccionou o seu discurso. Reverteu o cenário desfavorável que tinha e fez uma campanha me- morável. Dialogou com os jovens, ouviu os seus anseios, viveu e geriu as suas emoções, partilhou com eles as responsabilidades que tinham na construção da Nação, fez deles parte da solução, não deixando de Ihes mostrar as dificuldades e os problemas. Foi conciliador, foi humano; Soares foi fixe.

"(...). Neste âmbito, importa salientar o papel reservado à juventude, a única força motriz capaz de vencer todos os desafios. É importante que se aprofunde a qualidade da sua educação, no plano técnico e cultural, para que a sua formação especifica não deixe de levar em conta o contributo dos grandes homens das diferentes culturas e civilizações que, ao longo dos séculos, nos ajudaram a compreender e a amar o mundo e os nossos semelhantes. É com esperança no empenho dessa juventude que mantenho o optimismo e continuo a acreditar que podemos legar um mundo melhor aos nossos descendentes", disse João Lourenço, no seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, no dia 24 de Setembro de 2019.

Portanto, a inclusão da juventude nos seus discursos e nas políticas do seu Executivo vem de longe. Os jovens são importantes e cruciais para a sua manutenção e governação. Há uma estratégia de governação de João Lourenço pela inclusão e promoção da juventude através de um processo de renovação geracional em curso. Foi assim com o aumento, por duas vezes, do número de militantes do Comité Central do MPLA, com uma estrutura actual de quase 700 membros, na sua maio- ria jovens. JLo vê, nos jovens do MPLA, a sua bóia de salvação, o seu porto seguro. Nesta segunda-feira, procurou reforçar a sua base de apoio no seio da juventude e mostrar-lhes que é um líder fixe.

A transição forçada e por via de uma ruptura geracional

João Lourenço recorre ao exemplo e trajectória de José Eduardo dos Santos (JES) para apresentar aos jovens uma 'via-expressa para chegarem ao poder. JES, sempre ne- gado e ostracizado, serve agora de modelo e de inspiração para legitimar a sua narrativa. Os jovens passam a fazer parte de uma nova força de bloqueio', para travare enfraquecer as pretensões e ambições dos grupos de pressão e forças internas que tentam impor mudanças. Este encontro serviu, acima de tudo, para criar na juventude a ideia de que podem chegar ao poder e que está a chegar o seu momento. Alimenta-lhes o sonho e cria automaticamente um "tampão às candidaturas que alguns mais velhos do MPLA pretendem apresentar ou apoiar. João Lourenço tem algumas cartas na manga e há 'jovens' que estão na sua agenda de transição ge- racional, quer seja ela pacífica ou forçada.

Adão de Almeida. O actual ministro de Estado e chefe da Casa Civil de João Lourenço tem feito uma trajectória política muito discreta e distinta. Tem experiência de governação, pertence, é aceite e bem apreciado nas diferentes estruturas do MPLA. Tem passagem pela academia (Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto) com um registo notável, tem uma imagem associada à competência, inteligência, simplicidade. Facilmente reuniria consenso de figuras como Carlos Feijó, Pitra Neto, Virgílio de Fontes Pereira 'Gigi', Bornito de Sousa, Carlos Teixeira, Raul Araújo, José Octávio Serra Van- Dúnem e de outras altas figuras com respeito e cunho académico no MPLA. Ju Martins e o parente Roberto de Almeida também lhe dão suporte e garantia. Tem presença e uma postura de elevação e de nível. Éopri meiro na lista desta nova geração que o actual poder aposta e conta para o futuro, Se, realmente, a posta de João Lourenço para a sua sucessão for na juventude, Adão de Almeida é o primeiro da lista e o mais capacitado para tal.

José de Lima Massano. O ministro de Estado para a Coordenação Económica (ME- CE) - o tal que chegou ao cargo com uma folha de serviços notáveis resultantes do trabalho realizado durante o período em que esteve à frente do Banco Nacional de Angola (BNA) é o mais importante e poderoso ministro de Estado e surge nesta lista de jovens que João Lourenço tem na cartola. É sobrinho do general João Pereira Massano, chefe do SISM (Serviço de Inteligência e Segurança Militar), irmão de Eduarda Rodrigues, a mulher que, desde 2018, dirige o Serviço Nacional de Recuperação de Activos (SENRA) da Procuradoria -Geral da República, irmão do jurista, docente universitário e secretário de Estado para a Indústria (que ele próprio indicou e nomeou), Carlos Rodrigues. Não tem experiência partidária nem aceitação nas mais importantes estruturas do MPLA. Tem também o défice em termos de relações humanas e de sociabilização, tendo uma relação de corte e de ruptura com muitos dos seus ministros como Vera Daves dos Santos (Finanças), Ricardo Viegas D'Abreu (Transportes), João Baptista Borges (Energia e Águas) e Diamantino de Azevedo (Petróleos e Recursos Minerais). Falta-lhe algum tacto, objectividade e humildade na relação com a imprensa e com o corpo diplomático. Vem da banca comercial e é tido como 'parte interessada' nalguns projectos no sector, para além de algumas 'guerras surdas' com gestores da banca comercial. Apesar de certa experiência e suporte familiar, o nosso "Messi" ainda tem de ganhar terreno e aprender a driblar muitos defeitos.

Manuel Homem. A dinâmica de participação dos cidadãos, de assumirem uma relação de compromisso com os cidadãos e com as instituições é uma estratégia que João Lourenço tem passado e que Manuel Homem pretende consolidar. É o governa dor de Luanda, tem uma uma governação presente, inclusiva, participativa e sus tentável. Tem tido muitas dificuldades e resistências na liderança e gestão do MPLA em Luanda. Tem o apreço e confiança de João Lourenço, mas existem muitas 'forças de bloqueio' no MPLA contra a sua liderança, exposição e protagonismo. É obediente, disciplinado e leal ao camarada Presidente, mas isso não lhe dá supor te, garantias ou background para ter o 'atrevimento' de avançar para o cargo de Presidente da República de Angola, que é muita 'areia para o seu camião'. Manuel Homem é um jovem para estar aí em prontidão, mas não é o homem para se sentar no cadeirão da Cidade Alta.

Edeltrudes Costa -' O Kopelipa' dos novos tempos. É o verdadeiro 'filtro antes de qualquer aproximação ou abordagem ao Presidente João Lourenço. Nunca um director de gabinete de um PR em Angola teve tanto poder como ele, na Cidade Alta. Todos sabem que, depois de João Lourenço, ele é quem manda. Não hesita em mostrar que tem poder de facto. Não está no cargo para ser um organizador de agendas ou facilitador de audiências. É o fiel depositário dos principais segredos de Estado, está sempre presente e tudo controla. Tem uma ideia e visão sobre o poder. Ele personifica o poder que vem logo a seguir a João Lourenço. É poderoso e sabe de mais para ser deixado de parte ou de lado. Faz parte de uma estratégia do PR para um modelo de governação alternativa, inspirado no modelo Putin-Medvedev, ou seja, movimentam-se as peças, mas fica tudo na mesma.

Ricardo Viegas D'Abreu. O homem que recebeu de João Lourenço a missão de reestruturar, inovar, impulsionar e revolucionar o sector dos transportes em Angola tem procurado cumprir com zelo esta mis- são. Corredor do Lobito e o Novo Aeroporto Internacional de Luanda são dois projectos que o colocam na linha e em permanente contacto com dois 'players' e parceiros importantes para Angola, os EUA e a China. Os portos, aeroportos e a TAAG são dossiers que domina e lhe dão certo protagonismo. Os transportes ferroviário e rodoviário são outras áreas que merecem maior apoio e intervenção. O caso 'Machimbombo Gate criou-lhe alguns constrangimentos em termos de lisura, transparência e da sua própria imagem enquanto gestor público. É focado, organizado, zeloso e dedicado. Tem suporte e apoio no seio das 'famílias' e é um dos 'cavalos' que Ana Dias Lourenço apoiará numa eventual corrida presidencial. É uma das suas reservas estratégicas, extensão e representação do seu poder no Executivo. Caso para dizer que "quem se dá bem com a mulher do Chefe, sempre fica bem aos olhos do Chefe". Novo jornal

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Last modified on Domingo, 01 Setembro 2024 21:57
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