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Agualusa diz que Angola tem mais liberdade de expressão mas outras estão ameaçadas

Post by: 10 Novembro, 2025
Agualusa diz que Angola tem mais liberdade de expressão mas outras estão ameaçadas

O escritor angolano José Eduardo Agualusa considera que Angola vive hoje um período de maior liberdade de expressão em comparação com a era do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, embora reconheça que outras liberdades fundamentais continuam ameaçadas.

"A liberdade de expressão é muito maior do que naquela época. Agora, há outras liberdades que continuam a ser postas em causa, como a liberdade de manifestação", afirmou o autor, em entrevista à agência Lusa, a propósito da celebração dos 50 anos da independência de Angola, que se assinala em 11 de novembro.

Segundo Agualusa, atualmente as pessoas podem falar e publicar sem grandes restrições, existindo "muitos jornais independentes" e meios de comunicação social que não estão alinhados com o regime.

"Todas as vezes que estive em Angola a lançar livros, fui falar em todo lado, então não é um problema de liberdade de expressão, a meu ver", acrescentou.

O autor de "Teoria Geral do Esquecimento" destacou que a desigualdade social permanece como um dos grandes problemas do país.

"Essa desigualdade aumentou imensamente a partir do momento em que se escolheu o sistema capitalista, depois do período socialista, do partido único [MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola]", observou Agualusa, acrescentando que mesmo as elites, que em tempos enriqueciam, já não enriquecem tanto, continuando a haver uma "desigualdade social extrema".

O escritor angolano sublinhou ainda que a corrupção e o nepotismo continuam a ser um obstáculo ao desenvolvimento do país lusófono, afirmando que estes fenómenos desviam recursos das áreas que deveriam ser prioritárias.

"A prioridade em Angola devia ser a educação, educação básica, e a saúde (...) Infelizmente, o país continua a gastar muito dinheiro em grandes construções, muitas vezes sem justificação", criticou.

Agualusa acredita, contudo, que a nova geração de jovens, que é muito "combativa" e "aguerrida", e "interessada em mudar a situação", é essencial para transformar Angola.

"Acredito que só esta nova geração poderá transformar Angola. Se houver uma possibilidade de transformação, tem que ser com a juventude", ressaltou.

Sobre as mudanças após meio século de independência, o autor reconhece que Angola conquistou progressos importantes, sobretudo em educação e condições de vida.

"Na época colonial havia muita miséria. Eu lembro-me em criança, mesmo nas ruas das cidades, mesmo no Huambo - [cidade angolana, onde o escritor nasceu em 1960] -, onde eu vivia, a maioria das pessoas andava descalça. Poucas pessoas tinham dinheiro para comprar sapatos", contou.

Em contraste com esse período, a independência melhorou as condições de vida, mas não trouxe tudo o que era ambicionado, como a "justiça social, riqueza para todos, educação, saúde, etc", apesar de a situação ser "pior do que se vivia na época colonial".

"Hoje os angolanos decidem o seu destino", afirmou, sublinhando que muitos aprenderam a ler e a escrever.

O escritor conclui que, apesar das dificuldades, Angola "produziu avanços em muitos aspetos", e que o futuro do país dependerá da capacidade de a sociedade manter viva a liberdade e a consciência crítica.

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