"A nossa associação não concorda que se possa acabar com a venda ambulante porque o país não tem emprego e o que cria a venda ambulante é o problema do desemprego no país", começou por explicar, em entrevista à Lusa, o presidente da AVAL, José Cassoma.
Aquele dirigente reagia à polémica que está instalada na capital angolana, depois da recente orientação do novo governador provincial de Luanda, Adriano Mendes de Carvalho, para "o fim urgente da venda ambulante nas ruas, avenidas e zonas pedonais da capital angolana".
"Queremos e defendemos a organização da venda ambulante, porque nesta altura achamos que os vendedores ambulantes deveriam contribuir também para os cofres do Estado, uma vez que o país se encontra numa situação económica difícil", afirmou por seu turno o presidente da AVAL.
Uma organização que, refere, pode "passar por atribuição de cartões de ambulante" ao nível dos nove municípios de Luanda, "no sentido de o Estado daí poder obter recursos para o Orçamento Geral do Estado", de resto, recorda, "como já se fazia anteriormente".
"Se houvesse uma boa organização e fiscalização poderia funcionar, porque temos países lá fora em que a venda ambulante existe. Agora num país com sérios problemas sociais e económicos, sem emprego para juventude, apenas encontram sustento aí para as suas famílias", explicou.
Adriano Mendes de Carvalho ordenou, no final de outubro, o fim desta atividade, classificando como "inadmissível" a situação que se vem registando nos últimos dias, "sob olhar impávido dos administradores".
A medida é encarada com bastante preocupação no seio das vendedoras ambulantes de Luanda, também conhecidas como 'zungueiras', por ser o único sustento que têm.
Depois desta orientação, as equipas de fiscalização, segundo os relatos dos últimos dias, têm vindo a atuar em força nos arredores da capital, nomeadamente com a apreensão do "negócio" que por norma estas mulheres, mas também muitos homens mais novos, carregam pelas ruas de Luanda, a vender.
Para José Cassoma, terminar com esta venda ambulante na capital angolana "deve acontecer apenas com apresentação de soluções de emprego" por parte do governo da província, por se tratar de uma forma de "sobrevivência" e que "apenas lutam para sustentar as famílias".
Com 3.700 vendedores cadastrados, o presidente da associação, que existe desde 2013, refutou ainda as informações de mercados vazios, em que os vendedores ambulantes se recusam frequentar, considerando que deveriam previamente consultar esses vendedores.
"Constroem-se os mercados sem antes consultar os vendedores e ainda há um hábito de as pessoas compararem em locais mais próximos, porque nos mercados distantes o vendedor vai e há clientes", apontou.
Questionado pela Lusa sobre as motivações dos vendedores que optam por fazer o negócio em passeios e pedonais, conforme referiu igualmente o governador da capital angolana, o presidente da AVAL assumiu discordar dessas práticas.
"Não concordo com as vendas nos passeios e pedonais, mas concordo que haja lugares indicados pelas autoridades. Daí que falamos em organização, sobretudo a nível dos municípios, porque daí pode haver orientações das vendas serem intermunicipais, em função do cadastro de cartões", explicou.
A venda ambulante há muito que é condenada pelas autoridades, por nomeadamente condicionar o trânsito, contudo tem sido agravada pela crise económica e financeira que Angola vive, como última forma de sustento para milhares de famílias.