O posicionamento foi expresso hoje por unanimidade durante uma reunião conjunta que reuniu, na sede da União Nacional dos Trabalhadores Angola (UNTA), cerca de 300 profissionais, na qual participou igualmente a diretora provincial de Saúde de Luanda, Rosa Bessa.
O protesto dos enfermeiros iniciou-se na quinta-feira e visa reivindicar o pagamento de subsídios e retroativos, denunciando ainda ameaças e não descartando uma greve no setor.
"Vamos continuar a cumprir o decreto 254/2010, até ao mesmo que venha acrescida uma adenda que venha dirimir algum conflito naquilo que são os direitos e deveres dos profissionais de enfermagem", anunciou, no final do encontro, o secretário-geral adjunto do Sindicato dos Enfermeiros de Luanda, António Kileba.
Em declarações à Lusa, após uma reunião marcada por várias interrupções e ânimos exaltados dos profissionais da classe, que de forma efusiva mantiveram a posição de continuar o protesto, António Kileba, disse ainda que os enfermeiros pretendem uma alteração legislativa que regulamente a atividade que têm desempenhado nos últimos anos.
"Essa adenda ao decreto visa regular alguns atos, aquilo que os enfermeiros fazem, ou de acordo com o decreto faziam e vão deixar de fazer. Então a assembleia [de enfermeiros] solicitou uma adenda que pode autorizar esse ato até a reformulação, mas essa adenda tem de ser assinada pelo Presidente da República" explicou.
Pagamento de retroativos, de subsídios de consulta e promoção nas carreiras fazem parte do caderno reivindicativo remetido em 2012 ao governo provincial, mas "sem soluções à vista" e que motivou a suspensão de consultas e prescrição de receitas.
De acordo com António Kileba, alguns profissionais da classe estão a ser "coagidos pelos gestores dos hospitais e centros de saúde a retomar os trabalhos que são da competência dos médicos", e caso a situação persista avançará uma greve.
"A greve vai surgir em função daquilo que são as intimidações dos diretores dos hospitais, chefes de repartições e outros responsáveis das unidades hospitalares. Ao continuarem, não vamos mais convocar uma assembleia, mas sim uma plenária sindical para analisar o assunto e decretar a greve", acrescentou.
Os relatos de coações e ameaças foram apresentados por alguns profissionais durante esta reunião conjunta entre os enfermeiros e o governo provincial de Luanda.
A enfermeira Cecília Carneiro, de 60 anos a trabalhar no Hospital municipal do Zango, arredores de Luanda, disse mesmo que foi alvo de uma ameaça de morte e teme pela vida.
"Estamos preocupados com as ameaças dos gestores. Eu mesmo fui ameaçada de morte com telefonemas anónimos (...) mantemos a suspensão dos trabalhos porque consultar e prescrever receitas médicas não são da nossa competência", disse.
O secretário-geral adjunto do Sindicato dos Enfermeiros de Luanda recordou que são muitas as preocupações que desde 2012 afligem os cerca de 5.000 profissionais filiados na capital, sublinhado que a representante do governo provincial "nada trouxe de novo ao encontro".
"Ela [diretora da saúde de Luanda] não disse quase nada, não convenceu os trabalhadores, apenas valeu a sua presença para assistir à temperatura e às preocupações da classe", afirmou.
"Apelamos ao Governo que resolva a situação a curto prazo, num espaço de 15 dias, porque uma adenda para assinar é melhor, pensarmos que estão em causa vidas humanas, porque a lei já existe, precisamos acudir à população, mas desde já precisamos dos subsídios", apontou.
Dos sete pontos do caderno reivindicativo, segundo o sindicalista, constam ainda o abastecimento regular de medicamentos, reagentes, e material gastável, atendimento médico e medicamentoso aos profissionais, as quotas sindicais e ainda a destituição de diretores com atitudes arrogantes e prepotência.
"Nesse ponto, o governo solicitou que nós denunciássemos esses responsáveis e os respetivos nomes e ainda nos garantiu que estará em curso um plano de reestruturação do setor da saúde em Luanda. São apenas promessas e mais promessas", concluiu.