Em declarações à agência Lusa, o primeiro secretário e porta-voz da comissão sindical, Costa Santos, disse que a greve por tempo indeterminado arrancou hoje e está a ser cumprida em Luanda, Namibe, Benguela e nas Lundas Norte e Sul.
Costa Santos lamentou a posição da direção, que até ao momento não demonstra abertura para negociação, denunciado que foram alegadamente notificados a abandonarem o local sob pena de serem retirados à força.
Segundo Costa Santos, os trabalhadores, mais de 120 pessoas, estão a cumprir a sua greve "calmamente", colocando apenas os panfletos "à espera que a direção da empresa responda".
"Mas fomos notificados agora pela gerência do condomínio que não podemos estar aqui, temos que estar fora do condomínio e caso permaneçamos eles irão usar a força para nos retirar, já ouvimos algumas sirenes, mas ainda não vimos nenhum a chegar, mas continuamos aqui, porque já está próximo das 17:00, que é o horário de trabalho", disse.
Questionado se a direção tentou algum contacto com os trabalhadores, Costa Santos disse que não, mas vão continuar a aguardar.
"Se nos correrem hoje daqui, amanhã (terça-feira) vamos estar numa das lojas no centro da cidade", indicou.
A direção da empresa, num comunicado distribuído, na semana passada, à imprensa nega a inexistência de diálogo entre as partes, admitindo que a empresa atravessa "um período difícil", que resultou na decisão dos seus acionistas, em dezembro de 2014, submeter a empresa a um processo de reestruturação, visando a reversão da situação, sua revitalização e crescimento da quota de mercado.
A entidade empregadora diz ainda estar consciente dos anseios dos seus trabalhadores, por isso atendeu ao pedido para o reajuste dos subsídios de alimentação e transporte dos colaboradores, do subsídio de óbito em 33%, introduziu a dispensa laboral por ocasião do aniversário e aplicou um novo classificador salarial, bem como do regime de progressão de carreira.
"Entretanto, face à situação económica do país e a capacidade de remuneração da empresa, a direção da Movicel embora compreenda a importância da concessão de reajustes e benefícios aos trabalhadores, não pode neste momento atender a uma das reivindicações na forma imposta pelo sindicato, ou seja, proceder ao aumento salarial generalizado, na ordem dos 75%, sob pena de colocar em risco o pagamento pontual dos salários dos trabalhadores, gerando atrasos sucessivos no seu processamento, situação esta que agravará o já difícil ambiente produtivo", refere o documento.
O caderno reivindicativo foi entregue a 15 de janeiro e de novo a 09 de março, tendo resultado numa reunião entre a direção da empresa e comissão sindical, nos dias 18, 19 e 20 de abril, para ampla discussão das questões apresentadas pela parte reivindicadora, "porém não encontraram as soluções esperadas pelos trabalhadores".
A direção da Movicel acusa a comissão sindical de não ter legitimidade para convocar a greve, porque na assembleia de trabalhadores, realizada a 21 de abril, que sustenta a convocação da paralisação, supostamente "não estiveram mais de 80 colaboradores, dos quais muitos são desconhecidos".
Constam do caderno de reivindicações, sobretudo um pedido de "dignidade aos funcionários, acabando com as assimetrias salariais", mas igualmente a "reavaliação e reenquadramento do pessoal na nova tabela salarial, segundo as categorias ostentadas por estes até novembro de 2016".