A Soares da Costa vai voltar a mãos portuguesas. Os gestores da construtora e um grupo de investidores portugueses estão na fase final de negociações para a compra da posição de 66,6% que a GAM Holdings, do empresário angolano António Mosquito, detém na sociedade. O valor do negócio não é divulgado. “Um grupo de gestores/investidores está em fase adiantada de negociação para fazer o MBO [management buyout ou compra pela gestão]”, afirmou Joaquim Fitas, presidente executivo da Soares da Costa. “Antes do final do mês o negócio estará fechado”, disse ao Expresso.
A Soares da Costa SGPS foi autonomizada e passou a ser detida por Mosquito em 2014, numa altura em que o grupo se encontrava em sérias dificuldades financeiras. Mosquito entrou na construtora em janeiro de 2014, num investimento de €70 milhões. O negócio de construção foi autonomizado e surgiu a SDC-Investimentos, que detém 33,3% da Soares da Costa SGPS. Em 2016, Mosquito esteve para ficar com 100% da Soares da Costa, mas em agosto de 2016 a sociedade deu início a um Processo Especial de Recuperação (PER). Recentemente, a gestão da construtora foi surpreendida com o chumbo do Tribunal do Comércio de Gaia ao seu plano de viabilização, que passava por um perdão de dívida por parte de credores. Esta semana foi divulgado o despacho com a nomeação de um novo administrador judicial do PER da Soares da Costa. “Mais ou menos daqui a um mês deverá estar pronto [um plano] para votação dos credores”, afirmou Joaquim Fitas.
A empresa registou perdas acumuladas de €117 milhões no triénio 2013-2015, aliando imparidades e défice de exploração. O prejuízo operacional em 2015 foi de €57 milhões. O pedido para entrar em processo de recuperação foi iniciado em agosto de 2016.
CGD entre os principais credores
No total, a lista de credores da construtora abrange 1689 dívidas reconhecidas, num total de €711 milhões. Entre os principais credores estão a Caixa Geral de Depósitos (€170 milhões), o BCP (€110 milhões), o Banco Millennium Atlântico (€80 milhões) e o Bankinter (€32 milhões).
Mas o que leva os gestores e um grupo de investidores a quererem ficar com uma empresa envolvida num plano de recuperação? “Temos visto uma oportunidade dada a disposição do acionista em vender a sua posição”, diz Fitas. “Conhecemos o sector e os mercados onde a sociedade opera e temos a capacidade de fazer o investimento”, adianta, sem entrar em detalhes sobre o financiamento da aquisição. Mas afirmou que haverá lugar à participação direta de investimento por parte dos próprios gestores e investidores individualmente.
“Acreditamos na empresa e no seu potencial”, garantiu Fitas. “Não somos doidos. Atenção, porque a Soares da Costa ainda tem muito para dar”, sublinhou. Segundo o gestor, a Soares da Costa registou um crescimento na sua carteira de encomendas firme que “demonstra claros sinais de recuperação”.
“E este é um regresso da Soares da Costa a mãos portuguesas, sem deixar de ter uma presença em mercados como Angola e Moçambique”, apontou. Além do negócio de construção e obras púbicas, a Soares da Costa tem ainda uma empresa de instalações, a Clear, e uma empresa de serviços partilhados.
Segundo Joaquim Fitas, o financiamento do novo plano de recuperação será igual ao do plano anterior, que estava a cargo do BMA. A Soares da Costa tem como acionista minoritário (33,3%) a SDC-Investimentos — antiga Soares da Costa —, que acaba de ser alvo de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) por parte da Investeder Investimentos, que ofereceu €0,027 por ação. Após a conclusão da operação, a Investeder, detida pelos próprios gestores da SDCI, passou a deter 73,6% da SDC-Investimentos. No final de 2016, a SDC-Investimentos era detida em 55,96% por Manuel Fino, através da Investifino.
Expresso