Em entrevista ao “Público”, disse que o ex-presidente de Angola é, politicamente, «uma sombra» do que já foi e que, «mais cedo ou mais tarde, estas investigações vão virar-se contra ele pessoalmente».
Ao mesmo tempo, continuou, Luanda terá de demonstrar «que há um verdadeiro compromisso para com a luta contra a corrupção, incluindo quando existem custos políticos e não apenas ganhos». Senão, destacou, «a ideia de que existe em Angola um novo paradigma terá pouca credibilidade, porque de outros pontos de vista a continuidade é profunda: o mesmo partido, as mesmas pessoas, as mesmas famílias, fora aquela…».
Quanto a Isabel dos Santos em concreto, sublinha o «comportamento bajulador» das elites portuguesas. «É francamente confrangedor e deveria ser uma fonte de embaraço para muita gente. Mas não é», lamentou, recordando que «ainda há semanas, vários portugueses ilustres vieram atacar Ana Gomes, que recebeu mais apoio da sociedade civil angolana do que dos interesses do costume em Portugal».
«É claro que estas investigações globais vão desenterrar muitas provas embaraçosas de cumplicidade portuguesa. Às nossas autoridades resta contribuir activamente para este processo e disponibilizar toda a informação existente sobre bens ilícitos de Pessoas Politicamente Expostas em Portugal. Mas o papel verdadeiramente exemplar seria fazê-lo em relação a todas a pessoas sobre as quais existe essa informação, e não apenas aquelas que os governos estrangeiros queiram alvejar, seja por que motivo for», acrescentou.
O Tribunal Provincial de Luanda, recorde-se, decretou na segunda-feira, 30 de Dezembro, o arresto preventivo de contas bancárias pessoais de Isabel dos Santos, do marido, Sindika Dokolo e de Mário da Silva, chairman da Efacec, administrador da Nos e seu braço direito, e das participações sociais que detêm em nove empresas naquele país (Banco BIC, Unitel, Banco BFA, Finstar, ZAP Media, Cimangola II SA, Condis – centros comerciais Candando, Continente Angola e Sodiba, distribuição de bebidas).
«O impacto económico deste arresto poderá ser negativo para varias empresas de grande importância em Angola», antecipou ainda Ricardo Soares de Oliveira. Já a mensagem política, destaca, «poderá ser positiva, se as provas disponibilizadas forem sólidas e se este arresto fizer parte de um compromisso inequívoco para com o Estado de Direito».
A defesa que a filha de José Eduardo dos Santos estará já a desenhar terá como pontos-chave que este é um processo político, que o processo judicial não foi conduzido nos termos da lei e que, entre outros pontos, terá havido má fé por parte das autoridades angolanas.