De acordo o Relatório Anual e Contas, disponível nos canais oficiais da empresa estatal angolana, a Sonangol alcançou um resultado líquido consolidado positivo de cerca 1.800 milhões de dólares (1.681 milhões de euros), e um volume de negócios equivalente a cerca de 13.404 milhões de dólares (12.525 milhões de euros).
Além do aumento do volume de negócios, de 50% face ao ano anterior, também o resultado operacional (EBITDA, sigla do resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) cresceu quase 50% pelo segundo ano consecutivo, para 5.332 milhões de dólares (4.982 milhões de euros).
“Apesar dos desafios verificados, a operadora de bandeira encerrou o ano de 2022 com um resultado económico e financeiro robusto, sustentado, substancialmente, pela consolidação das medidas previstas no programa de reestruturação e pelo rigor financeiro e operacional”, refere a empresa no seu relatório.
O investigador do Centro de Estudos da Universidade Católica de Angola José Oliveira concorda, mas alerta que “o drama” continua a ser “o aumento da dívida do Estado angolano à empresa”.
Os números de 2022 não estão ainda validados pelas Finanças, mas estão calculados em torno dos 4.000 milhões de dólares (3.736 milhões de euros), aos quais há que deduzir cerca de 1.300 milhões de impostos, o que, somado aos valores de 2020 e 2021, que constam do relatório e contas da empresa agora divulgado, faz ascender a dívida do Estado à empresa para um valor próximo dos 10 mil milhões de dólares (9,3 mil milhões de euros).
“Eu costumo dizer que quando ultrapassar os 10 mil milhões as campainhas vão soar”, alertou o analista, em declarações à Lusa, considerando que é por causa dela, e não de má gestão ou de outros fatores, que a Sonangol não tem uma situação “desafogada”.
A dívida decorre sobretudo dos subsídios estatais aos combustíveis, que o Governo já está a diminuir gradualmente, a que há que somar dívida antiga e outras rubricas e de investimentos feitos pela empresa, no passado, em nome do Estado.
Esta situação faz com que a petrolífera estatal não pague, por sua vez, aos parceiros e a empresas fornecedoras de combustíveis – Angola importa ainda cerca de 70% dos combustíveis de que necessita –, uma dívida que já deve estar “próxima dos 1.300 milhões de dólares”, segundo cálculos deste analista.
No relatório e contas, a Sonangol destaca que 2022 foi, essencialmente, marcado pelo aumento do preço do petróleo bruto, que a beneficia, mas “os aumentos generalizados das taxas de juro nos mercados internacionais e da inflação, impactaram, desfavoravelmente, no valor das principais unidades geradoras de fluxo, bem como nos preços das matérias-primas e produtos importados pela petrolífera nacional, com destaque para a gasolina e o gasóleo”.
Neste contexto, José Oliveira duvida que seja possível pensar em avançar com a privatização da empresa, afirmando que “ninguém sério” vai querer comprar parte de uma empresa “quando o dono é o grande devedor”.
“Acho que estamos muito longe de privatização”, enquanto o Estado não assumir e reduzir substancialmente a divida, concluiu.