O escritório de Lisboa teve um papel central no esquema que corrompeu o Estado angolano. No centro da ação, em Angola, está um agente, que até agora permanece anónimo, a quem a BCG pagou mais de 3,8 milhões de euros em comissões.
"Determinados empregados da BCG em Portugal estavam cientes de que este agente tinha laços estreitos com responsáveis do Governo angolano e membros do partido no poder (MPLA). A BCG concordou pagar ao agente 20 a 35% do valor de quaisquer contratos adjudicados pelo Governo e enviar esses fundos a três entidades offshore", determinou o Departamento de Justiça dos EUA.
O trabalho deste agente foi sendo ocultado por membros do escritório em Portugal através da falsificação de documentos.
A atividade ilícita resultou em lucros de quase 14,4 milhões de dólares em contratos - dinheiro que agora reverte para a Justiça norte-americana.
Entre 2011 e 2017, ano que coincide com a saída de José Eduardo dos Santos da Presidência do país, foram celebrados pela consultora 11 contratos com o Ministério da Economia angolano e um com o Banco Nacional de Angola.
Neste período, um dos governadores à frente da instituição foi José de Lima Massano, atualmente ministro para a Coordenação Económica.
Na sequência da investigação, foram despedidos funcionários sem direito à normal compensação financeira. Num acordo com a Justiça dos Estados Unidos, o departamento criminal não vai processar a empresa, mas não exclui a possibilidade de acusar pessoas individuais ligadas à consultora.
Em aberto continua a investigação que resultou do Luanda Leaks, processo que, segundo a SIC apurou, está separado do acordo agora alcançado pela consultora.
Há cerca de um ano, a Polícia Judiciária realizou buscas na BCG em Portugal. Os documentos divulgados pela SIC e pelo Expresso mostram que a consultora recebeu mais de 31 milhões de euros da Sonangol, petrolífera angolana na altura liderada por Isabel dos Santos.