Num comunicado do Ministério das Relações Exteriores (MIREX) angolano, enviado hoje à agência Lusa, é referido que as informações foram prestadas durante um encontro com o embaixador da República Democrática do Congo (RDC) em Angola, Didier Kazadi Nyembwa, realizado na capital angolana, Luanda.
No documento lê-se que Nyembwa foi convocado pelo ministro das Relações Exteriores angolano em exercício (Manuel Augusto está fora do país), Domingos Custódio Vieira Lopes, que deu conta da operação policial que está a decorrer em sete províncias de Angola para combater o garimpo e a imigração ilegais.
"O embaixador Didier Nyembwa agradeceu o esclarecimento que lhe foi prestado, prometendo reportar fielmente ao Governo do seu país", lê-se no comunicado, que acrescenta que o diplomata congolês realçou que as relações entre Angola e a RDCongo "continuam saudáveis" e que "não haverá retaliação contra os angolanos" que residem no país.
Segundo a nota, Domingos Vieira Lopes lembrou que a "Operação Transparência" "não visa exclusivamente os cidadãos da RDCongo", mas sim "todos os cidadãos em situação migratória ilegal e que praticam o garimpo", entre eles angolanos, nas sete províncias em causa - Lunda Norte, Lunda Sul, Malanje, Bié, Moxico, Uíge e Zaire.
Por outro lado, o chefe da diplomacia angolano em exercício, acompanhado pelo secretário de Estado do Interior, Bamukiia Zau, "informou" o diplomata congolês que o vídeo que circula nas redes sociais, "insinuando que houve uma ação de tortura contra cidadãos da RDCongo, não passa de uma 'campanha enganosa e de má-fé'".
Para Domingos Vieira Lopes, essa campanha visa "minar as boas relações existentes" entre Angola e a RDCongo.
Sobre esta questão, o diplomata congolês, ainda segundo o comunicado, assegurou que, "apesar desse incidente amplamente divulgado por vários meios de comunicação social", as relações entre os dois países "continuam saudáveis".
A "informação" prestada à RDCongo surge na sequência de um pedido feito nesse sentido pelas Nações Unidas que, na terça-feira, exortou os governos de Angola e da RDCongo a trabalharem juntos para garantirem um "movimento populacional" seguro.
Na ocasião, a ONU expressou preocupação sobre a alegada saída forçada de Angola de, então, mais de 200.000 cidadãos da vizinha RDCongo nas duas últimas semanas, admitindo que a situação pode gerar uma crise humana, situação negada, entretanto, pelas autoridades policiais angolanas.
Hoje, a polícia angolana anunciou que, desde o início da operação, já 261.713 cidadãos estrangeiros em condição irregular, maioritariamente cidadãos da RDCongo, "abandonaram voluntariamente" Angola.
Na terça-feira, o comandante-geral da Polícia Nacional angolana, Paulo de Almeida, negou as informações sobre alegadas mortes de cidadãos da RDCongo, considerando-as "especulações" que "têm como objetivo travar a operação e ação das autoridades" de Angola.
"Não devemos estar preocupados com essas informações, que têm sempre uma visão de impedir e dificultar aquilo que nós queremos para o bem do país", disse Paulo de Almeida, garantindo que a operação "vai continuar" e que as autoridades mantêm-se "firmes e disciplinadas".
Na segunda-feira, o Governo da RDCongo revelou que está a "investigar" o que considera ser "uma expulsão maciça", entre "alegações sérias de acusações de violência".
"As alegações são muito graves. O Governo reagirá oficialmente nos próximos dias", declarou à agência France-Press o porta-voz do executivo congolês, Lambert Mende, em reação à "Operação Transparência".
Há relatos de expulsões violentas, até mesmo mortes de congoleses, que Angola nega, falando de retornos "voluntários".