"Os principais riscos são os preços do petróleo caírem abaixo das previsões, o que colocaria uma pressão adicional na taxa de câmbio oficial, fazendo subir a inflação, uma excessiva depreciação da moeda, o que aumentaria os custos da dívida externa, colocando em risco a sustentabilidade da dívida, e atrasos nas principais reformas, que colocariam em perigo o crescimento económico e a estabilidade política a longo prazo", escrevem os analistas.
Numa nota sobre as principais previsões para Angola, enviada aos investidores e a que a Lusa teve acesso, esta consultora do grupo que detém a Fitch Ratings prevê ainda que a moeda angolana se desvalorize ao ponto de serem precisos 997 kwanzas por dólar, este ano, e 1.007 no próximo ano.
O comentário surge poucos dias depois da revisão da perspetiva de crescimento, com os analistas da BMI a preverem agora uma recessão económica em Angola este ano, com uma queda de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB).
"Prevemos que o PIB real vá contrair-se 0,7% em 2023, depois de uma expansão de 3,1% em 2022, o que é uma revisão em baixa face à nossa anterior previsão de 1,8%", lê-se numa nota enviada esta semana aos investidores.
Na revisão das perspetivas de evolução da economia de Angola, os analistas explicam que "esta revisão reflete largamente o impacto da forte desvalorização do kwanza em junho", e acrescentam que "o aumento da inflação vai impactar no consumo das famílias e no investimento das empresas, o que coloca ainda mais pressão descendente na atividade económica do setor petrolífero".
A BMI, anteriormente conhecida como Fitch Solutions, detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings, é das primeiras consultoras a assumir nas previsões que Angola pode voltar ao crescimento negativo que enfrentou entre 2016 e 2021, motivando a intervenção do Fundo Monetário Internacional.
"Como não prevíamos que o crescimento abrandasse para menos de 1% [no segundo trimestre] e por causa da forte desvalorização do kwanza, que caiu 39,6% só em junho, e o impacto inflacionário, prevemos agora que haverá uma contração de 0,7% no PIB real, pior que a nossa anterior estimativa de 1,8% de crescimento", escrevem.
As más notícias continuam na inflação e na produção petrolífera, com a BMI a prever uma aceleração da inflação de 11% para 15%, chegando ao final do ano nos 17% face ao período homólogo, e com a produção petrolífera a cair 2,4%, o que, aliado à queda de 19,2% no preço do barril, para 80 dólares em 2023, "vai aumentar o impacto da queda da produção de petróleo".
Olhando para 2024, a previsão da BMI aponta para um regresso a um crescimento de 0,6% "devido à ligeira recuperação dos preços do petróleo, que vão subir 2,4% para 83 dólares por barril, e ao abrandamento da queda da produção interna", para 1,7%.