João Melo falava, enquanto moderador, numa mesa redonda organizada num hotel em Talatona, arredores de Luanda, pelo Ministério da Comunicação Social de Angola, subordinado precisamente ao tema "Boas Notícias", que contou com um painel de três jornalistas, entre eles o português Ferreira Fernandes, diretor do Diário de Notícias, e um ativista social.
Salientando os esforços empreendidos no último ano pelo Governo angolano para abrir a comunicação social em Angola, João Melo admitiu que os desafios provocados pelo fenómeno das redes sociais trazem "novos desafios à comunicação social".
Um deles, exemplificou fazendo uma analogia com o futebol, está ligado aos "milhares de treinadores de bancada", pois as redes sociais permitem agora a qualquer pessoa comentar seja qual tema for, sabendo-se de antemão que "o que vende" são notícias sobre "crimes, tragédias, mortes e guerras".
Sobre o tema, Reginaldo Silva, jornalista angolano e um dos oradores na mesa redonda, considerou o tema pertinente, lembrando que, após a independência de Angola, em 1975, o jornalismo militante, com base no "Partido Estado", foi preponderante na divulgação de boas notícias, "orientadas pelo MPLA".
"As boas notícias eram também as únicas, pois a propaganda assim o exigia. Fizeram época e ai de quem não escrevesse boas notícias. Hoje, todos percebem de tudo, temos a nossa razão como ‘treinadores de bancada', como referiu o ministro, mas faz todo o sentido falar das boas e más notícias, embora uma boa notícia para um possa ser má para outro", realçou.
Outro jornalista, Carlos Rosado de Carvalho, diretor do semanário económico angolano Expansão, defendeu, por seu lado, que "não há boas nem más notícias".
"Há notícias. Aquelas que cumprem as regras do jornalismo, bem escritas, cumprindo o contraditório e a ética profissional, pelo que a mensagem se torna secundária. As notícias têm de ser bem feitas. Um jornalismo responsável é aquele em que se diz a verdade. Mas uma boa notícia também não tem de ser necessariamente propaganda", afirmou.
Para Rosado de Carvalho, apesar de o setor da comunicação social em Angola ter crescido significativamente nos últimos anos, o grande problema ainda reside na formação e na falta de preparação para a profissão, onde se nota sobretudo a falta de especialização, por exemplo, no de cariz económico.
José Ferreira Fernandes, por seu lado, destacou que escrever "boas notícias" e "escrever com base em propaganda" não são a mesma coisa, mas voltou a levantar a que estão de que uma boa notícia para uma determinada personalidade ou pessoa, pode ser o oposto para outra.
Segundo Ferreira Fernandes, natural de Luanda, um exemplo de "boas notícias" é o facto, "pouco realçado", de que Angola tornou-se "unida" após o final da guerra, em 2002, e que o conflito civil "acabou mesmo" - "isto é pouco contado e serve de exemplo para o resto".
O ativista social Fernando Pacheco, agrónomo de formação e comentador frequente nas páginas dos jornais angolanos, destacou, por seu lado, o atual clima de abertura na comunicação social em Angola, realçando que o modo como está a apresentar o país "é o instrumento mais importante da governação".
"Abre portas a outras conquistas, abre a porta a debates na comunicação social. Se isso são boas ou más notícias isso já é diferente. Falta preparação aos profissionais", concluiu.