Segundo Venâncio, a subcomissão de candidaturas não é a última instância, havendo ainda outras para as quais pode recorrer, nomeadamente a comissão eleitoral, o Comité Central, a comissão de auditoria e disciplina, o secretariado do Bureau Político, e inclusive o congresso, onde será eleito o novo líder, marcado para dezembro.
O político, há 47 anos militante do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), solicitou à subcomissão de candidaturas da Comissão Nacional Preparatória do VIII congresso ordinário do partido, a prorrogação do prazo para apresentação de candidaturas, que decorreu entre 20 de outubro e 05 de novembro, mas o pedido foi rejeitado.
Questionado se era este o desfecho esperado, António Venâncio, engenheiro de profissão, referiu que estava à espera de "debilidades nessa passagem de um partido pouco democrático para um partido democrático".
"Esta é uma passagem dura, difícil, um parto duro, e há até incompreensões, que também nós já estávamos a contar, com aquelas relativamente a uma candidatura desse género, de um militante que se propõe a liderar o partido. Portanto, há essas imprecisões, imperfeições, incompreensões, com as quais nós estávamos a contar, mas também estávamos a contar com a nossa coragem e com a nossa força e estamos aqui exatamente para isto, para lutarmos até onde as nossas forças o permitirem", afirmou.
A subcomissão de candidaturas da Comissão Nacional Preparatória do VIII congresso ordinário do MPLA, que se realiza de 09 a 11 de dezembro, disse que recebeu apenas uma carta de reclamação do candidato a pedir prorrogação de prazos, o que, por força das normas estatutárias, foi considerado "impraticável".
António Venâncio considerou o seu partido "uma soma de experiências", iniciada em 1962, frisando que esta fase é de mais uma experiência.
"E cada vez que a gente vive uma experiência, a gente enriquece, de tal ordem que o futuro é cada vez mais promissor para o próprio MPLA. Estamos no processo de aprendizagem, há até insultos, há provocações, mas isto é um processo de aprendizagem”, declarou.
Apesar da rejeição da candidatura, António Venâncio considera que a sua carreira política não fica beliscada, lembrando que o efeito é contrário quando se pretende "abafar, silenciar" se os procedimentos não forem os mais corretos.
"No meu caso concreto não era tão conhecido como agora, apesar de ter palmilhado o país, milhares de quilómetros. Eu sou um homem de obras, de projetos, de fiscalização, percorri o país de lés a lés, conheço todos os povos do país, estive em Cabinda a trabalhar, no Cuemba (Bié), no Cunene, no Huambo, em toda a parte do país, ao longo de mais de 30 anos e conheço o meu povo", sublinhou.
António Venâncio assumiu que quer trazer “uma visão diferente, nova" para a política, com a qual "se calhar algumas pessoas estão com algum receio de que possa trazer benefícios" que antes se lutou e não se conseguiu.
"Portanto, creio que o meu destino está no MPLA, vamos lutar para que tudo corra bem, para que tudo se realize nos marcos dos estatutos, nos regulamentos e que os nossos direitos sejam respeitados", frisou.
Venâncio adiantou que se for candidato vai apresentar a sua lista com outros nomes que conhece, "que podem dar o melhor para o partido", o que provavelmente alguns dos seus "camaradas" receiam por saberem que não os iria cooptar para integrarem determinado tipo de órgãos.
"Eu nunca revelei essa minha lista, mas as pessoas sabem que eu terei uma lista com uma proposta para o vice-presidente do partido, para o vice-presidente da República, para os membros do Comité Central, para o Bureau Político e, portanto, estou plenamente tranquilo relativamente a alguma resistência que possa aparecer da própria estrutura interna do partido, porque configura uma mudança", frisou.
Coordenador de um grupo temático no Comité dos Engenheiros do MPLA, última função que ocupou no partido, António Venâncio foi delegado ao comité de distrito e delegado a vários eventos do partido.
De acordo com António Venâncio, o líder do partido, João Lourenço, único candidato à presidência do MPLA no VIII congresso ordinário "não estará a dar toda a atenção que seria necessária prestar agora", não tendo "se calhar" tomado este processo "como um processo histórico".
"Provavelmente não terá dado essa valoração. Acho que estamos a viver um processo histórico em que os delegados há quatro anos decidiram empreender uma nova forma de ocupação do cargo de presidente do MPLA, ou seja, que não fosse apenas por uma simples indicação, mas que fosse no âmbito de uma concorrência entre vários cérebros do partido", referiu.
Na conferência de imprensa, o mandatário do candidato, Felisberto Costa, disse haver tempo para António Venâncio realizar as reclamações, destacando que foram várias as obstruções que sofreu o processo de candidatura, a mais flagrante delas o acesso vetado aos órgãos de comunicação social públicos.
"Não nos esqueçamos que quem comanda na prática o sistema nacional de comunicação social neste país é o titular do poder executivo, que é ao mesmo tempo o presidente do MPLA, não podemos esquecer isso, quer uma obstrução mais concreta do que a comunicação social fez à candidatura do engenheiro António Venâncio, há um melhor exemplo a dar? Achamos essa muito, grave e prejudicial aos interesses do pré-candidato", apontou.