O fenómeno, que afeta este tipo de transporte público informal, é recente e ao fim de alguns meses de polémica aquela associação decidiu avançar com uma campanha de sensibilização para tentar demover estes jovens daquele tipo de comportamentos e de cobranças ilícitas.
"As reclamações são não só de taxistas, mas também de passageiros. É de facto um trabalho ilegal e quando atuam de forma coerciva pior ainda. Quando não são obedecidos, promovem atos de vandalismo, partem vidros de viaturas", denunciou à Lusa Geraldo Wanga, presidente da ANATA.
Estes 'lotadores' não passam de jovens que, logo ao amanhecer, marcam presença nas paragens de táxis em Luanda com o propósito de persuadir passageiros para determinado táxi, cobram uma taxa que pode variar entre 50 kwanzas e 200 kwanzas (até 70 cêntimos) por cada viatura, dependendo da sua lotação e do destino.
De acordo com Geraldo Wanga, a campanha de sensibilização arrancou no final de abril e pretende levar a que os 'lotadores' terminem com esta prática "de forma voluntária", sob pena de a associação solicitar a intervenção da polícia, para repor a legalidade.
"Porque a falta de regulamento ou de um estatuto que venha reger essa atividade está na base da desordem que se verifica nas paragens de táxis", justificou, referindo ainda não ser pretensão da ANATA "expulsá-los simplesmente das paragens, mas apenas repor a ordem".
"Sabemos que daí conseguem alguma coisa para sustentarem as suas famílias. Aliás, temos já o aval dos nossos associados no sentido de podermos incluí-los na nossa atividade de forma ordeira, obedecendo a um regulamento que estamos a elaborar", adiantou.
A solução, explicou o dirigente, passa por "retirar todos" os 'lotadores' das paragens. Só depois, "aqueles que quiserem continuar com o exercício dessa atividade" deverão digerir-se à associação para terem conhecimento do regulamento entretanto preparado.
Um regulamento no qual deverão constar "os deveres e obrigações do 'lotador'", que será ainda portador de um colete "com o respetivo nome e número de cadastro", listagem que "também será partilhada com a polícia, para controlar a sua atuação".
Segundo o presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola, "é urgente" o controlo dos 'lotadores' nas paragens de táxis, porque grande parte dos mesmos "são altamente perigosos e infiltram-se na atividade para encobrirem as suas reais pretensões".
"Porque de dia estão nas paragens e de noite são assaltantes. São sim altamente perigosos e mesmo um caso de polícia, nós tivemos registo de três mortes em 2016, mataram pessoas à luz do dia nas paragens São Paulo e da Cuca", argumentou.
Aquela associação controla atualmente pelo país cerca de 24.000 associados, sendo que a maioria atua em Luanda, num total de 18.500 profissionais, entre taxistas e cobradores.
Contactados pela Lusa, alguns 'lotadores' da paragem da Cuca, município do Cazenga, em Luanda, na sua maioria jovens desempregados, admitiram alguns excessos na sua atuação, mas ao mesmo tempo congratulam-se com a pretensão da ANATA, em colocar ordem na atividade.
Há oito meses a lotar táxis de pequeno porte, na rota Cuca/Congoleses, Firmino Joaquim, de 17 anos, garantiu que atua "com civismo", porque é daí que consegue "alguma coisa para o sustento".
"Já ouvi sim casos de confusão nas paragens, mas nós aqui temos bom comportamento", assegurou, contando que por dia chega a fazer mais de 1.000 kwanzas (3,50 euros), com a atividade.
Por sua vez, Paulo da Silva, de 24 anos, trabalha como 'lotador' desde 2017 e diz já ter assistido a cenas de agressões a cobradores dos táxis, protagonizados pelos seus "colegas" nas paragens por onde já trabalhou.
"Só acontece confusão quando o cobrador não colabora. Todo o mundo sabe que o 'lotador' recebe sempre alguma coisa dependendo da capacidade da viatura, então quando não pagam o valor completo acontece muitas vezes confusões, mas que não é boa coisa", afirmou.
Para aquele 'lotador', uma melhor organização da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola "é bem-vinda" e "vai facilitar" o trabalho: "Nós não somos gatunos, temos família e estamos aqui a lutar pela vida porque não temos emprego".