A informação foi avançada à agência Lusa pelo superintendente-chefe Inácio Feliciano, comandante da sétima unidade da Polícia de Guarda Fronteiras (PGF) de Angola, que controla uma linha de 490 quilómetros (120 dos quais fluviais) entre a província da Lunda Norte e a RDCongo, precisamente a área onde atuam aquelas milícias.
Num desses ataques, um agente do Serviço de Migração e Estrangeiros angolano foi decapitado pelas milícias - que contestam a autoridade do Governo de Kinshasa decapitando polícias ou militares - no posto de fronteira de Itanda, na Lunda Norte, e de acordo com Inácio Feliciano, alguns elementos das milícias que atacam a fronteira têm sido detidos, encontrando-se sob custódia angolana.
"A situação ainda requer alguns cuidados. Embora na fronteira, neste preciso momento, a segurança seja estável", sublinhou o comandante da sétima unidade da PGF, uma das duas que controla a fronteira da Lunda Norte com a RDCongo.
No total, a PGF contabiliza nove ataques destas milícias nos postos de fronteira.
Segundo a informação na posse das autoridades angolanas, no que diz respeito às zonas de fronteira, apenas as localidades de Kavumbu e de Tshissenge continuam nas mãos das milícias de Kamwina Nsapu, perante o esforço das forças congolesas para reassumirem o controlo.
Inácio Feliciano reconheceu que do outro lado começa a ser "reposta a autoridade do Estado". Isto depois de episódios em que os elementos das próprias forças de segurança congolesas abandonaram os postos por receio das milícias, armadas com paus e catanas, mas também com algumas armas de fogo.
Conotados com rituais de feitiçaria, o suficiente para provocar o pânico em homens e mulheres, estas milícias conseguiram fazer recuar as forças de segurança da RDCongo. Centenas de homens fugiram à decapitação até para o território angolano, como aconteceu no posto aduaneiro de Kamako, na fronteira angolana de Tchissanda, a poucos quilómetros do Dundo, capital da província da Lunda Norte.
"Tivemos incursões das milícias e soubemos como gerir essas situações. Nas nossas fronteiras só registamos duas áreas que ainda estão ocupadas pelas milícias Kamwina Nsapu, mas as forças do Governo congolês estão a fazer a limpeza nas zonas deles e não temos mais motivos de queixa", disse ainda o superintendente-chefe Inácio Feliciano.
Naquele posto de Kamako/Tchissanda, uma área que há várias semanas está encerrada a civis, face à ordem de fecho de fronteiras (com exceção dos refugiados) entre a Lunda Norte e a RDCongo, quatro elementos das forças congolesas patrulham, visivelmente, o local.
Do lado angolano, vários homens da PGF e do Exército, fortemente armados e com trincheiras já escavadas no solo, para todas as eventualidades, garantem tolerância zero a qualquer incursão.
"Como vê, aqui, desse lado, algumas forças já ocuparam a fronteira", explicou o oficial, depois de trocar algumas palavras com os militares e polícias congoleses do outro lado do portão, agora fechado, que ali separa os dois países.
Aquele posto aduaneiro é um dos mais importantes nas relações económicas, culturais e até familiares entre o Kasai e a Lunda Norte. A reabertura das fronteiras, disse o comandante da PGF, está dependente da segurança que vier a ser garantida e comprovada pelas autoridades congolesas.
"Quando as forças restabeleceram a reposição do Estado, então nós vamos verificar a segurança entre os postos de guarda fronteira. Mas, necessariamente, requer ainda cuidado, para abrir a fronteira, porque na troca entre a população angolana e congolesa ainda pode acontecer qualquer coisa", admitiu.
Só a sétima unidade da PGF controla 34 marcos de guarda fronteira delimitando o território angolano com o congolês, conforme divisão ainda do tempo colonial português e belga.
Sem elementos visíveis para facilmente distinguir a linha de fronteira, o superintendente-chefe Inácio Feliciano garantiu que todos os guardas daquela força "têm que saber localizar" no terreno estes pontos.
"Porque é ali onde está a autoridade do Estado, a dizer onde começa e termina a soberania", concluiu.