Economista angolano Alves da Rocha defende prioridade à cooperação Sul-Sul

Post by: 13 Julho, 2021

O economista angolano Alves da Rocha considera que a CPLP tem estado centrada na cooperação Norte-Sul, beneficiando sobretudo Portugal, sugerindo que Angola dê prioridade à cooperação Sul-Sul ao assumir a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Em declarações à Lusa, em vésperas da cimeira da CPLP que decorre nos dias 16 e 17 de julho em Luanda, o economista e responsável do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola disse que as relações entre os vários membros desta organização acontecem entre economias muito desequilibradas e desiguais.

“A potência económica do Brasil ou de Portugal não tem nada a ver com aquilo que se passa em Angola, ou em Moçambique, já para não falar de Cabo Verde ou da Guiné-Bissau e de São Tomé e Príncipe que não têm relevância das trocas comerciais”, disse o académico, notando que o mesmo se passa com Portugal no contexto da União Europeia.

“Portugal é claramente um país da periferia europeia que não consegue sedimentar convergências reais com a União Europeia, e isso também se passa na CPLP, onde o Brasil e Portugal estão bem distantes das outras economias, ainda para mais num contexto em que não há as chamadas ajudas estruturais como são praticadas na União Europeia, tendentes a salvaguardar ou a diminuir esse desequilíbrio”, salientou.

Manuel Alves da Rocha considerou, por outro lado, que a cooperação comercial e económica, bem como no domínio dos investimentos, no seio da CPLP tem sido feita sempre de norte para sul, o que deve ser solucionado.

“Não há uma cooperação Sul-Sul e eu acho que nesta cimeira, em que Angola vai assumir a presidência, deve dar uma ênfase muito grande a esta cooperação Sul-Sul porque a sensação que eu tenho é que esta cooperação económica Norte-Sul tem sido feita sempre a favor do Norte e, neste caso, de Portugal”, frisou o economista, apelando a que Angola assuma um papel no incentivo desta cooperação Sul-Sul, envolvendo sobretudo Brasil, Angola e Moçambique.

O investigador sublinhou que é importante “descobrir pontos que, de facto, contribuam para um crescimento económico das economias que mais necessitam”, já que Angola e em Moçambique têm deficiências estruturais que os impedem – no contexto internacional e da CPLP - de retirar vantagens deste tipo de cooperação.

“Creio que se deveria nesta cimeira e na mesa-redonda na qual vão participar os chefes das representações comerciais de cada um dos países, colocar a ênfase no desenvolvimento e no aprofundamento de uma cooperação Sul-Sul (…) e perceber de que maneira países como Portugal e o Brasil podem ajudar no aprofundamento desta cooperação”, reforçou.

Referiu, por outro lado, que no pilar da cooperação económica – que Angola já afirmou como prioridade – terá de ser incluída a cooperação científica e cooperação tecnológica, “mas não apenas no papel” e acrescentou que organizações como a CPLP têm de estar preparadas para responder a desafios mundiais como a economia azul, a economia verde, a economia circular.

Para Alves da Rocha, “é preciso fazer algo que marque a organização para o futuro, e não apenas nas relações comerciais”, impulsionando investimentos estruturantes, em setores que façam apelo à inovação, à investigação e à descoberta de novos produtos.

O desafio, prosseguiu, é tornar a CPLP numa organização solidária em termos de alterações estruturais profundas e permanentes.

A XIII Conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP, que marca a passagem da presidência rotativa desta comunidade de países de Cabo Verde para Angola, decorrerá em formato presencial.

Criada há 25 anos, a CPLP tem atualmente nove Estados-membros: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Guiné Equatorial - cuja adesão, em 2014, criou polémica.

Last modified on Terça, 13 Julho 2021 14:13

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