A descolonização é vista com melhores olhos em Angola e Cabo Verde do que em Portugal - sondagem

Post by: 01 Julho, 2025

Uma sondagem da Universidade Católica Portuguesa para a RTP feita em Portugal, Angola e Cabo Verde, mostra que a independência é vista de forma positiva pelos três países. Contudo, a diferença entre os inquiridos angolanos e cabo-verdianos, quando questionados se o processo da descolonização foi bom ou mau, é significativa, sobretudo se comparada com os portugueses.

Enquanto em Portugal apenas 36% dos inquiridos considera que a descolonização foi “boa” ou “muito boa”, 76% da população angolana inquirida respondeu desta forma. No caso de Cabo Verde, foram 88% que responderam afirmativamente.

32% da população portuguesa inquirida considera que esta não foi “boa nem má”, enquanto 26% considera que foi “má”. Em Angola, apenas 11% tem uma visão negativa enquanto 16% afirmam que esta foi “nem boa nem má”. Em Cabo Verde, apenas 4% olham de forma negativa para o processo.

A sondagem, divulgada numa altura em que se assinalam os 50 anos da independência das ex-colónias africanas, revela um consenso quanto à decisão de Portugal em reconhecer essa independência: 86% dos portugueses, 81% dos angolanos e 91% dos cabo-verdianos consideram que foi a decisão correcta.

Ainda assim, a maior parte dos portugueses acredita que o processo de descolonização não decorreu da melhor forma. Para 79% houve falhas, enquanto apenas 13% consideram que tudo correu bem. Quanto à atribuição de responsabilidades, 38% apontam o regime anterior ao 25 de Abril e 20% culpam os negociadores da época.

Quando questionados sobre o que fariam hoje perante o processo de independência, a esmagadora maioria dos inquiridos em Angola (80%) e em Cabo Verde (81%) afirma que teria apoiado os movimentos de libertação.

No caso dos inquiridos cabo-verdianos, foi ainda perguntado se estes preferiam a permanência como território autónomo sob administração portuguesa: 84% considera que a independência foi a melhor solução para Cabo Verde.

Outra componente analisada nesta sondagem foi a forma como os três países percepcionam a independência e o pós-descolonização na dimensão cultural, política e económica. Em Portugal, a maioria vê efeitos positivos nos domínios político e cultural (ambos com 54%), mas o impacto económico divide opiniões: 46% consideram-no negativo, enquanto 44% vêem-no de forma positiva.

Em Angola, o aspecto cultural é o mais valorizado (64%), seguido do económico (56%). Politicamente, a opinião está dividida entre os que vêem melhorias e os que apontam retrocessos (45% em ambos).

Já em Cabo Verde, predomina uma percepção positiva em todas as áreas: 87% destacam avanços culturais, 63% económicos e 61% políticos.

Angola e Cabo Verde querem que Portugal devolva artefactos saqueados

A maioria dos inquiridos em Angola e Cabo Verde acredita que Portugal deve pedir desculpa pelo seu passado colonial e devolver artefactos e outros artigos saqueados durante esse período, indicou esta terça-feira uma sondagem da Universidade Católica feita para a ‘RTP’, citada pela agência ‘Reuters’: a pesquisa foi feita com entrevistas a mais de 3 mil pessoas em Angola, Cabo Verde e Portugal.

Em Angola, 58% dos inquiridos afirmaram que Portugal deveria devolver artefactos como máscaras, esculturas e objetos rituais retirados das suas antigas colónias. O apoio foi maior em Cabo Verde, com 63%. A sondagem mostrou que 54% dos portugueses apoiavam a devolução destes artigos, mas 58% disseram que Portugal não devia um pedido de desculpas às suas ex-colónias. Em Angola, 59% achavam que Lisboa devia pedir desculpa, enquanto em Cabo Verde, 58%.

A maioria dos inquiridos nos três países – 58% em Angola, 83% em Cabo Verde e 78% em Portugal – não acredita que os monumentos relacionados com o colonialismo devam ser removidos. Em Portugal, 58% dos inquiridos afirmaram que deveria ser construído um memorial às vítimas da escravatura transatlântica.

Um memorial às vítimas da escravatura, há muito adiado, planeado para a zona ribeirinha de Lisboa, tem estado envolvido em controvérsia numa altura em que os apelos globais por reparações e acerto de contas com erros passados ​​— incluindo dentro da União Africana — continuam a ganhar força.

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