A Namíbia, que faz fronteira com Angola, entrou na concorrência como novo ator na área dos petróleos, como sinalizou o economista, acreditando que as grandes companhias petrolíferas estrangeiras poderão afastar-se de Angola devido à “crise” no setor e ao ambiente de negócios.
“É conhecida a crise no setor dos petróleos em Angola, (onde) não há investimentos de prospeção, investigação e desenvolvimento e parece que, agora, estas grandes multinacionais estrangeiras estão à procura da Namíbia, porque reconhecem neste país que o seu ambiente de negócio é aceitável e superior ao de Angola”, afirmou Alves da Rocha.
Em declarações à Lusa, o economista e também diretor do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, apontou uma série de fatores que considera condicionarem o desenvolvimento económico de Angola, nomeadamente o atual ambiente de negócios, referindo que o país lusófono precisa de um mais face à atual taxa de crescimento.
A consultora britânica Oxford Economics reviu recentemente em alta a previsão de crescimento da economia de Angola, antecipando agora uma expansão de 2,9% este ano, devido à subida na produção petrolífera para 1,17 milhões de barris diários.
Para Alves da Rocha, instituições nacionais e estrangeiras têm a liberdade de fazer previsões, “desde que assentes em bases e metodologias científicas”, considerando, no entanto, “insuficiente” as referidas previsões de crescimento de Angola em 2024.
“O que lhe posso dizer é que 2,9% (previsão de crescimento da Oxford) é pouco. Angola tem de crescer muito mais, a taxa de crescimento demográfica anda a volta dos 3% e os 3,2% e, portanto, isso é pouco e não creio que seja suficiente para atrair investimento privado”, frisou.
O diretor do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, que em abril passado estimou uma taxa de crescimento da economia do país de 2,7% em 2024, referiu que muitas vezes os números das previsões de organismos nacionais ou estrangeiros se aproximam.
“Mas, tudo depende do tipo de modelo que se utiliza e das hipóteses que se admitem (na elaboração das previsões), seja como for 2,9% é insuficiente”, insistiu.
O responsável do CEIC, organismo que faz análises e relatórios sobre a economia angolana, lamentou que “persistam” em Angola fatores e variáveis que influenciam negativamente o crescimento económico do país.
No ambiente de negócios “há muitas variáveis que influenciam a tomada de decisões da parte dos privados”, referiu o investigador.
Enumerou além da componente macroeconómica, problemas nas infraestruturas (água, energia, estradas), a falta de transparência e os ajustes diretos a nível dos investimentos do Estado, “que ainda prevalecem”, como fatores que condicionam o crescimento e o investimento.
“E ainda a questão do poder judicial e a sua transparência, há vários fatores e, naturalmente, que cada instituição que se debruça sobre a economia de Angola ao abordar esses aspetos vai fazê-lo de maneira diferente, mas são importantíssimos, sobretudo para atrair o investimento estrangeiro”, apontou.
Alves da Rocha lamentou ainda que Angola tenha “uma das mais elevadas taxas de desemprego do mundo”, referindo ser esta uma variável fundamental para haver atração de investimento e para que Angola possa pagar e praticar salários convenientes.
Angola, segundo maior produtor de petróleo da África Subsariana, produziu 34,8 milhões de barris de petróleo em junho e arrecadou, neste período, 714,38 mil milhões de kwanzas (751 milhões de euros), uma redução de 20% comparativamente ao mês anterior, segundo dados oficiais.