Angola poderá registar excedente orçamental se preço do crude ficar no nível atual, diz consultora

Post by: 08 Março, 2021

Decisão da OPEP+ de manter os cortes na produção fortaleceu as perspetivas favoráveis para o preço do crude, diz a consultora Eaglestone, sublinhando que isso é uma notícia positiva para Angola, pois ajuda a recuperação económica e as contas públicas do país.

Num cenário do preço médio do Brent atingir os 60 dólares por barril em 2021, a economia angolana registaria um superávit representando 3% do Produto Interno Bruto (PIB), num ano para o qual o Governo de João Lourenço orçamentou um défice de 2,2%, assumindo um preço médio de 39 dólares, referiu a consultora Eaglestone Securities.

Numa nota de research assinada por Tiago Bossa Dionísio, a Eaglestone recordou que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e seus parceiros decidiram na passada quinta-feira manter um limite apertado na produção de crude em abril, levando a uma forte valorização do seu preço num mercado que esperava um aumento da oferta.

O cartel debatia se havia de repor até 1,5 milhões de barris por dia (bpd) no próximo mês, com a Arábia Saudita ainda a reter um milhão de bpd em cortes voluntários de produção e demonstrando que não tem muita pressa em fazer regressar esta oferta.

“A decisão da OPEP+ foi não só uma surpresa, mas indica também que o mercado mundial vai estar mais limitado nos próximos meses”, explicou.

A consultora salientou que o preço médio do Brent rondou os 58 dólares nos primeiros dois meses deste ano, subindo mais de 30% desde o final de 2020 para transacionar atualmente acima dos 67 dólares, uma evolução que deve-se acima de tudo aos cortes na oferta por parte da OPEP+ e algum otimismo sobre a recuperação da economia mundial que poderá levar a um aumento da procura de crude.

“Entretanto, os investidores estão cada vez mais otimistas em relação à evolução do preço do petróleo, com o crescimento da procura a poder ultrapassar o nível de oferta que a OPEP+ puder vir a repor no mercado”, adiantou.

“De facto, alguns investidores antecipam que o preço possa atingir os 75-80 dólares até ao verão, altura em que a procura é mais elevada. De salientar também que alguns investidores acreditam que o preço do Brent possa voltar a cotar acima dos 100 dólares nos próximos 18-24 meses assumindo que a melhoria dos fundamentos económicos levará a um crescimento mais rápido da procura, a produção da OPEP+ manter-se-á contida e a falta de investimento manterá a oferta de petróleo de xisto limitada nos EUA”, vincou.

Alertou, no entanto, que esta previsão está longe do consensus todavia, com as projeções atuais a apontarem para um preço médio um pouco abaixo dos 65 dólares até 2025.

Mesmo a esses níveis o impacto nas contas públicas angolanas seria positivo. “A conclusão é clara: o governo angolano poderá registar um superávit orçamental em 2021 (para o mesmo nível de despesas já assumidas no OGE) se o preço do petróleo se mantiver nos níveis atuais”, salientou.
“Como exemplo, se o preço médio do crude atingir os 60 dólares este ano então o governo registaria um superávit representando 3% do PIB. Relembre-se que o orçamento atual prevê um défice de 2,2% do PIB assumindo um preço médio de 39 dólares”, adiantou.

A Eaglestone referiu que o governo continua a reiterar o seu empenho na consolidação das contas públicas e na sua agenda de reformas que visa restaurar a estabilidade macroeconómica, recuperar o crescimento sustentado através da melhoria da diversificação fora do sector petrolífero.

“Apesar disso, a dívida pública continua muito elevada, com este rácio a atingir mais de 130% do PIB em 2020. Isto reflete a forte depreciação do kwanza nos últimos anos (mais de 80% da dívida pública está denominada ou indexada a moeda estrangeira) e a recessão desde 2016”, frisou.

“Apesar da queda continuada na produção de crude, as perspetivas para o seu preço são uma notícia positiva para Angola, já que ajuda a recuperação económica e as contas públicas do país, enquanto que a recente estabilização do kwanza deverá contribuir para a sustentabilidade da dívida”, explicou.

Angola poderá não estar ainda perto de ver uma melhoria na avaliação das principais agências de rating, “mas mesmo assim, o governo deveria aproveitar a enorme ajuda que um preço do petróleo mais elevado deverá trazer nos próximos meses”, concluiu. JE

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