Num cenário do preço médio do Brent atingir os 60 dólares por barril em 2021, a economia angolana registaria um superávit representando 3% do Produto Interno Bruto (PIB), num ano para o qual o Governo de João Lourenço orçamentou um défice de 2,2%, assumindo um preço médio de 39 dólares, referiu a consultora Eaglestone Securities.
Numa nota de research assinada por Tiago Bossa Dionísio, a Eaglestone recordou que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e seus parceiros decidiram na passada quinta-feira manter um limite apertado na produção de crude em abril, levando a uma forte valorização do seu preço num mercado que esperava um aumento da oferta.
O cartel debatia se havia de repor até 1,5 milhões de barris por dia (bpd) no próximo mês, com a Arábia Saudita ainda a reter um milhão de bpd em cortes voluntários de produção e demonstrando que não tem muita pressa em fazer regressar esta oferta.
“A decisão da OPEP+ foi não só uma surpresa, mas indica também que o mercado mundial vai estar mais limitado nos próximos meses”, explicou.
A consultora salientou que o preço médio do Brent rondou os 58 dólares nos primeiros dois meses deste ano, subindo mais de 30% desde o final de 2020 para transacionar atualmente acima dos 67 dólares, uma evolução que deve-se acima de tudo aos cortes na oferta por parte da OPEP+ e algum otimismo sobre a recuperação da economia mundial que poderá levar a um aumento da procura de crude.
“Entretanto, os investidores estão cada vez mais otimistas em relação à evolução do preço do petróleo, com o crescimento da procura a poder ultrapassar o nível de oferta que a OPEP+ puder vir a repor no mercado”, adiantou.
“De facto, alguns investidores antecipam que o preço possa atingir os 75-80 dólares até ao verão, altura em que a procura é mais elevada. De salientar também que alguns investidores acreditam que o preço do Brent possa voltar a cotar acima dos 100 dólares nos próximos 18-24 meses assumindo que a melhoria dos fundamentos económicos levará a um crescimento mais rápido da procura, a produção da OPEP+ manter-se-á contida e a falta de investimento manterá a oferta de petróleo de xisto limitada nos EUA”, vincou.
Alertou, no entanto, que esta previsão está longe do consensus todavia, com as projeções atuais a apontarem para um preço médio um pouco abaixo dos 65 dólares até 2025.
Mesmo a esses níveis o impacto nas contas públicas angolanas seria positivo. “A conclusão é clara: o governo angolano poderá registar um superávit orçamental em 2021 (para o mesmo nível de despesas já assumidas no OGE) se o preço do petróleo se mantiver nos níveis atuais”, salientou.
“Como exemplo, se o preço médio do crude atingir os 60 dólares este ano então o governo registaria um superávit representando 3% do PIB. Relembre-se que o orçamento atual prevê um défice de 2,2% do PIB assumindo um preço médio de 39 dólares”, adiantou.
A Eaglestone referiu que o governo continua a reiterar o seu empenho na consolidação das contas públicas e na sua agenda de reformas que visa restaurar a estabilidade macroeconómica, recuperar o crescimento sustentado através da melhoria da diversificação fora do sector petrolífero.
“Apesar disso, a dívida pública continua muito elevada, com este rácio a atingir mais de 130% do PIB em 2020. Isto reflete a forte depreciação do kwanza nos últimos anos (mais de 80% da dívida pública está denominada ou indexada a moeda estrangeira) e a recessão desde 2016”, frisou.
“Apesar da queda continuada na produção de crude, as perspetivas para o seu preço são uma notícia positiva para Angola, já que ajuda a recuperação económica e as contas públicas do país, enquanto que a recente estabilização do kwanza deverá contribuir para a sustentabilidade da dívida”, explicou.
Angola poderá não estar ainda perto de ver uma melhoria na avaliação das principais agências de rating, “mas mesmo assim, o governo deveria aproveitar a enorme ajuda que um preço do petróleo mais elevado deverá trazer nos próximos meses”, concluiu. JE